Compreender os impactos do clima e das mudanças do uso e ocupação do solo, devido a intervenção humana, na hidrologia de uma região é um grande desafio e objeto de interesse cientifico crescente na literatura cientifica. Este conhecimento configura-se como a chave para avaliar a vulnerabilidade de sistemas de recursos hídricos e, assim, desenvolver estratégias de adaptação à gestão. A presente dissertação aplica diversos métodos tais como a regressão linear, o método da decomposição e a elasticidade climática (ambos baseados na hipótese de Budyko), e a modelagem hidrológica para estimar a contribuição relativa do clima e das mudanças nas características de cobertura da bacia, na variação das vazões médias anuais de longo período que são observadas nas várias estações localizadas na bacia do Rio São Francisco, Brasil. Os resultados apresentados mostram que 60% das estações sem influência de reservatório apresentaram mudanças na vazão média anual durante o período observado, com mudanças ocorrendo principalmente na virada do século. A redução de vazão é observada em todas as estações utilizadas no estudo, com mudanças relativas variando entre 10 a 45% referente ao período anterior a alteração. O grau de mudança e a contribuição relativa do clima e das mudanças nas características da bacia variam ao longo da região, apresentando, contudo, claro padrão espacial. A regressão linear obteve as maiores discrepâncias comparada as outras metodologias, obtendo, ainda, um valor r2 27-69%, o que significa que o método não foi capaz de representar a série de vazões adequadamente em várias estações. O método da decomposição e a elasticidade climática levaram a resultados similares entre si, diferentemente da contribuição identificada pela modelagem hidrológica, especialmente para as estações predominantemente influenciadas por atividades antrópicas. Ressalta-se a dificuldade apresentada pelo modelo hidrológico em representar as vazões mínimas, possivelmente devido a uma retirada considerável já no período considerado de vazões naturais, ou devido a dados de evapotranspiração potencial subestimados.
Understanding the impacts of climate and surface basin changes due to human activities in the hydrology of a region is a great challenge and the subject of increasing interest to the scientific literature. Said knowledge is key to evaluate water resources systems vulnerability and develop adaptation strategies. This paper employs multiple methods such as linear regression, decomposition method and climatic elasticity (based on the concept of Budyko hypothesis), and hydrological modelling, to estimate the relative contribution of climate and changes in basin surface characteristics in the variations of mean annual flows that are observed in several gauges located in the São Francisco River basin, Brazil. The results show that 58% of the gauges with at least 30 years of data and with low degree of regulation had their mean annual flow changed during the observed record, with changes occurring mostly at the turn of the century. A reduction in flows is observed in all gauges used in the study, with relative changes varying between 10 to 45% referring to the period before alteration. The degree of change and the relative contribution of climate and changes in basin characteristics vary over the region, but with a clear spatial pattern. The linear regression method had de biggest discrepancies compared to the other methodologies and also had a low r2 value, which means that this method was not able to represent the runoff series properly. The decomposition and the elasticity methods had a similar outcome in between them which was different from the contribution identified by the hydrological method specially for the gauges that were predominantly influenced by human activities.